Quando tudo for pedra, atire a primeira flor.
Quando tudo parecer caminhar errado, seja você o primeiro passo certo. Se tudo parece escuro, se nada puder ser visto, acenda você a primeira luz, traga para a treva, você primeiro, a pequena lâmpada.
Quando todos estiverem chorando, tente você o primeiro sorriso; talvez não na forma de lábios sorridentes, mas na de um coração que compreenda, de braços que confortem. Se a vida inteira for um imenso não, não pare você na busca do primeiro sim, ao qual tudo de positivo deverá serguir-se.
Quando ninguém souber coisa alguma, e você souber um pouquinho, seja o primeiro a ensinar, começando por aprender você mesmo, corrigindo-se a si mesmo. Quando alguém estiver angustiado à procura, consulte bem o que se passa, talvez seja em busca de você mesmo que este seu irmão esteja. Daí, portanto, o seu deve ser o primeiro a aparecer, o primeiro a mostrar-se, primeiro que pode ser o único e, mais sério ainda, talvez o último.
Quando a terra estiver seca, que sua mão seja a primeira a regá-la. Quando a flor se sufocar na urze e no espinho, que sua mão seja a primeira a separar o joio, e arrancar a praga, a afagar a pétala, a acariciar a flor. Se a porta estiver fechada, de você venha a primeira chave. Se o vento sopra frio, que o calor de sua lareira seja a primeira proteção e primeiro abrigo. Se o pão for apenas massa e não estiver cozido, seja você o primeiro forno para transformá-lo em alimento.
Não atire a primeira pedra em quem erra. De acusadores o mundo está cheio! Nem, por outro lado, aplauda o erro. Dentro em pouco, a ovação será ensurdecedora. Ofereça sua mão primeiro para levantar quem caiu. Sua atenção primeiro para aquele que foi esquecido.
Seja você o primeiro para aquele que não tem ninguém.
Quando for espinho, atire a primeira flor.
Seja o primeiro a mostrar que há caminho de volta, compreendendo que o perdão regenera, que a compreensão edifica, que o auxílio possibilita e que o entendimento reconstrói.
Atire você, quando tudo for pedra, a primeira e decisiva flor.
(Extraído por cópia livre da revista Terceiro Milênio, sem indicação de autor - A Flor da Vida Editora - Ano 5 – número 59 – novembro de 2006 – Brasília-DF).
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29.11.06
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